nome: |
Alfredo Rodrigues, Manuel Esteves, Xavier Rodrigues |
ano nascimento: |
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freguesia: | Verdoejo |
concelho: |
Valença |
distrito: |
Viana do Castelo |
data de recolha: | 2022 |
- A compra da Ilha do Conguedo
- A tropa - poema
- A velha das 7 ganchas
- As Assembleias e os Serões
- As partidas do João Salgueiro
- As partidas do Tio Barros
- As partidas do Tio Barroso
- Bruxarias
- Caminhos velhos - poema
- Contrabando após a Guerra Civil de Espanha
- Encontro com bruxas
- Os engenhos para serrar
- Os medos e as irmandades
- Racionamento na 2 ª Grande Guerra
- Roubar Vasos no S. João
- Verdoejo - poema
Histórias de várias partidas do tio Barros. Histórias de vida (bricadeiras entre amigos) - "Há uma história engraçada do meu bisavô, do Barros. Era muito malandro, fazia coisas que hoje, se calhar, davam prisão. E então havia aqui um senhor de Verdoejo que era assim um bocado já mais vadio, andava assim um bocado fora da família - o João Salgueiro. (...) Naquele tempo o pessoal ia para a Argentina, estava lá uns anos e depois alguns vinham. E, por este tempo, o meu bisavô diz ao tal João Salgueiro: «- Olha, canga o gado e vai a Valença que os teus tios chegaram da Argentina, para trazeres as malas.» Então o João Salgueiro cangou o gado. Na hora, em agosto, por este tempo, ir a Valença com o Gado é para aí duas horas de carro com o gado a andar. Chegou lá, não havia nada. Porque eles já andavam pegados, sempre faziam as malandreiras. O João Salgueiro calou-se. Um dia ele ia para Coura e passou ali em São Miguel de Fontoura onde havia uma banda de música. Chegou lá, conhecia bem o maestro e tudo, disse assim: «- Ó...» não sei o nome do maestro «Venho comunicar que fizeram um pedido para ir ao funeral do senhor Manuel Barros, a Verdoejo. É amanhã o funeral.» Que eram amigos, conheciam também o meu bisavô. E vem por ali abaixo, ficaram ali à entrada da freguesia, ali nas barracas. E o maestro vê o genro do meu bisavô, que era o meu avô, com a enxada às costas que ia regar para os Boedos. Diz o maestro: «- O João Salgueiro já nos fodeu. Manuel, como é? Está tudo bem? O teu sogro, está?» «- Está, está tudo bem.» «- Filho da mãe, já nos fodeu.» Fazia assim destas histórias. Mas havia muita coisa assim que se fazia malandrada que dava para coisa brava." - "Eu dessa do tio Barros, não sei se tu também estavas nessa, mas essa contava-se muito também. Tanto das malandrices que se faziam antigamente. Então esse Barros tinha um criado, que geralmente naquele tempo um agricultor assim mais [bem-sucedido] tinha sempre um criado. Era a miséria e havia sempre gente a prestar esse serviço. Então, um dia, ele mais o criado iam regar umas águas ali nas ribeiras pela noite dentro. E então diz ele ao criado: «- Olha, ao irmos para baixo...» Havia um senhor que tinha uma loja ali junto à estrada, onde funciona ali o restaurante do Nuno, na parte de baixo, houve ali uma loja. Ainda existe lá. Uma lojinha que antigamente vendiam as fazendas, panos e tal. E esse senhor Avelino da loja - agora presentemente puseram lá uns tratores - aquilo era uma horta, era um quintal bom, aquilo tinha até um poço de rega nesse tempo, naquela loja. Isso conheci eu, esse senhor. Cuidava muito da horta e tal. E então disse que tinha lá uns bons melões e melancias. O que é que faz o Barros? Diz ao criado: «- Quando formos para baixo, vais ali às melancias do Avelino da loja e levamos para baixo e enquanto esperamos pela horta a água, comemos.» «- Está bem, está bem.» Ele, coitado, aceitava tudo, o criado. E lá foram roubar-lhe as melancias e melões, levaram fartura. No domingo a seguir, naquele tempo quase toda a gente [ia] à missa, não é? E geralmente era assim, principalmente os homens, ainda hoje, mas naquele tempo juntavam-se antes da missa, ainda se conversava. E então aparece o Avelino da loja a queixar-se que se foram às melancias. E o Barros, o que é que ele faz? «- Olha que foi o lambão do meu criado. De certeza que foi ele! (...) Mas deixa lá, que eu mando-to lá, vou-lhe dizer para ir lá buscar pano para umas calças. E tu, depois, ao lá ir dás-lhe uma sarrafada.» E assim foi. Chegou a casa [e disse:] «- Olha, hás de ir depois à loja, que eu já falei com ele, para ires comprar panos para uma calças.» Olha, o rapaz lá foi, parece que lhe deu" Tinha muitas coisas dessas. Diz que ia à feira a Tui. Nesse tempo passavam ali na barca em Valença, ainda não havia ponte. Então diz que nesse tempo havia muitas mulheres a venderem mel naquelas talhas, na feira. Então ele comprava aqueles cacetes grandes que há na Espanha, umas peças grandes, tirava-lhe o miolo de dentro. E depois ele levava sempre um ou dois companheiros dele daqui da freguesia que iam com ele. E ele que dizia: «- Tu, vai aí ao meu lado. Quando eu der sinal, empurra-me, dá-me um empurrão.» Contavam muito isso. Então quando caía era mesmo a direto de uma talha daquelas com mel, que metia o pão por baixo e começava a ralhar com o outro e tal. A mulher também pregava e ele [ia embora]. Diz que ia comer a qualquer lado, começava a mandar sair a malta para fora, os que iam com ele: «- Vós ide saindo.» E ele depois ficava sozinho. E que depois quando ia lá o camarero procurá-lo e ele que dizia: «- Olha, já que estou só e estou, traz-me mais isto.» E naquele espaço [de tempo] ele fugia. Fazia muito isso. Esse Barros era muito falado, esse homem." - "E tinha um filho padre!" - "Havia uma loja dos Vieiras. Eles então antes de comer-se à noite, os lavradores pelo inverno iam regar a erva para a água ficar de noite, para a neve não cair. E quase todos então, quem tinha lavoura, antes de cear iam então meter a água e depois paravam nessas tabernas. Aquilo era aquelas tabernas e mercearia. Lá comprava, por exemplo, uma folha de bacalhau. E quando estava lá malta, como ele era malandro, também faziam umas malandrices, mas ele levava-as. Diz que chegavam a limpar-lhe o bacalhau todo, só ficava com as espinhas. Então diz que um dia que aparece a casa [à] mulher, com a enxada às costas só com as espinhas penduradas. Então ele diz que a mulher [disse:] «- Você é assim! Você é um burro!» Com a enxada com as espinhas penduradas. Era assim. Dia de ramos, havia uns ramos na igreja. Naquele tempo ia-se no dia de ramos com a oliveira e tal. Pronto, todos com os ramos enfeitados e o Barros então que arranjava uma galha de oliveira qualquer, mas tinha de ser uma galha grande, e lá entrava por aí acima. Depois que era tudo a rir-se e ele dizia: «- A igreja é tua? A igreja é tua?» Ele com uma galha às costas. Diz que era assim, que era um homem assim. Eu fui ao funeral da mulher, com a capa do coração de jesus, era pequeno. Agora a ele não o conheci. Agora ouvia falar muito destas histórias. Esse homem era muito falado, esse Barros era muito falado. Tinha histórias e acho que era assim, que aceitava. Era brincalhão e aceitava as brincadeiras."
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