nome: |
Deolinda Gonçalves e Irene Gonçalves |
ano nascimento: |
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freguesia: | Castro Laboreiro |
concelho: |
Melgaço |
distrito: |
Viana do Castelo |
data de recolha: | 2022 |
- A buraca da moura
- A moura e a serpente
- As brandas e as inverneiras
- As carpeadas
- Fazer sangue ao lobo
- O entroido [o entrudo]
- O lobisomem do Brasil
- O lobo que comia crianças
- O olho do mar
- Os lobisomens e os lobos
- Perder a fala com os lobos
Relato sobre as mudanças das terras brandas para as terras inverneiras. Costumes populares (transumância entre as habitações de inverno e as de verão; economia pastoril de montanha; memórias de antigamente). - "As brandas e as inverneiras. Aqui é um lugar fixo, aqui a vila. Eu sempre vivi aqui, a minha família sempre viveu num lugar fixo. Os avós do meu marido e da minha cunhada, é que viviam entre as brandas e as inverneiras. Ora, as brandas é deste lado de cá do rio, as inverneiras do lado esquerdo do rio. A gente passava uma parte do ano, no verão, que calha de março até ao mês de outubro ou novembro, não sei bem, porque não é coisa que eu..." - "Era novembro. Eu ainda ajudei os meus sogros a mudar." - "Ela ainda ajudou, pode falar se calhar mais sobre isso. E eles depois passavam aquela parte do ano e era onde tinham, se calhar, melhor casa, mais terrenos. E depois ao vir o inverno mais rude, começasse a fazer muito frio e a nevar, iam os meses de novembro até março, não sei bem, fevereiro ou março, para as inverneiras. Onde tinham menos terrenos, as casas em princípio eram mais ruins. E passavam aqueles meses do ano. Mas claro, tinham que levar tudo. Levavam da louça ao gato, como se dizia aqui. Levavam o gato no fole, as galinhas numa gaiolinha. Eu lembro-me de os ver passar. E na minha lembrança ainda havia muita gente. Agora é que não. Agora praticamente é uma pessoa ou outra e nada a ver com estas mudanças, porque agora agarram num carro, levam o gato se calha, ou nem sequer. Antigamente era no carro das vacas. Levavam o pão, levavam tudo. Os presuntos. O que havia na casa, porque era o que havia. Havia o fumeiro de a gente matar o porquinho. (...) Matavam nas brandas e depois levavam, por se nevava, se calha estavam 15 dias ou um mês sem ir à outra casa ver se estava tudo bem ou se não estava. Era gente que ia longe, calha a quatro ou cinco quilómetros. Calha de uma casa a outra, iam quatro ou cinco quilómetros a pé, com vacas, crianças pequeninas. Havia muito quem tinha burros, cavalos e levavam as crianças e os velhos. E levavam no carro, os velhos. E pronto, levavam tudo às costas." - "E depois se adoecia um velho. Imagine, geralmente era a Páscoa em branda e o Natal em inverneira, mas se adoecia um velho na altura de mudar, os vizinhos não mudavam até aquela família ir. Tinham de ajudar, não deixavam aquela família. Se estava muito mal que não podia fazer a muda, esperavam se calhar oito dias mais ou 15. Eu ainda me lembro de mudarem alguns, como se chamava aqui, numa padiola, tipo como há agora uma maca e de outros deitados nos carros nas vacas. Não podiam andar, não eram capazes de andar." - "O meu pai contar e a minha avó paterna contar. A minha avó paterna nasceu na Espanha, mas os avós dela eram portugueses. Então diz que numa altura, eles tinham muitos filhos, e a mulher pôs-se doente. E depois vieram os vizinhos todos ajudar a mudar para a inverneira. E ele disse: «Abaixo vou, mas acima não vêm.». E dali foi para a Espanha, vendeu tudo o que tinha aqui e foi para a Espanha. E depois a minha avó veio para cá outra vez, casou-se com o meu avô e vieram. Mas ele diz que foi para lá e nunca mais [voltou], porque, pronto, viu-se mal, tinha muitos filhos pequeninos e tiveram que os vizinhos lhe fazer tudo, ajudá-lo a ir de um lado para o outro. Então ele chateou-se e pronto, e nunca mais."
Inventário PCI
Transcrição
Caraterização
Identificação
Contexto de produção
Contexto territorial
Contexto temporal
Património associado
Contexto de transmissão
Equipa