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Logo a 31 do mesmo mês, a Direcção formada por Presidente, Secretário e Tesoureiro, respectivamente, Carlos Fabião Vintém, António Lagarto Gonçalves e Álvaro Curinha Parreira, os autores da ideia da marcha, dá início ao livro de contas que abre nestes termos: “Serve este livro para nele serem escrituradas as receitas e despesas do Rancho Típico Regional da Boavista”. Como receita do referido espectáculo anotaram 3.799$00 acrescida de uma oferta do ensaiador João Vidal no valor de 322$50. Nesse ano terminaram a sua acção com um saldo positivo de 38.606$00.


Havia, pois, ensaiador, balhadores(2) e algum dinheiro, mas os fatos utilizados tinham sido emprestados pela Junta de Freguesia de Urra e, rancho sem trajo não pode dançar, tal como “rouxinol sem asas não pode voar”. Ultrapassar este problema foi a primeira preocupação. De facto, analisando as primeiras despesas, depreende-se desta necessidade. Compraram-se tecidos, pagou-se a costureiras e sapateiros, fez-se uma bandeira(3), adquiriram-se tarros, foices e contrataram-se tocadores de acordeão, viola, banjo, clarinete, ferrinhos e castanholas. Segundo testemunho do tesoureiro, a fábrica de lanifícios de Portalegre ofereceu alguns tecidos, as lojas locais facilitaram o pagamento e o pai de António Gonçalves, ele próprio sapateiro, deu uma ajuda grande. A casa do Álvaro Parreira era a oficina, o ponto de apoio às costuras, às provas e ao trajo, conforme assegura o então secretário e funcionário da Câmara Municipal de Portalegre, António Gonçalves. Além de alfaiate, António Parreira era casado com Cesaltina(4), costureira, de profissão. Era meio caminho andado. Mães e crianças faziam um incessante corrupio lá para casa, ajudando em tudo o que era necessário.

(2)Balhador e balhadeira são os termos usados localmente para designar o homem ou a mulher que dançam num balho, quer dizer numa dança de cariz popular. João Vidal, primeiro ensaiador do Grupo, hoje com 70 anos, garante que, dizer-se antigamente que fulano ou sicrano bailava, tinha um sentido depreciativo. Havia que dizer balhava, neste caso.

(3) Esta bandeira, ainda existente, mas já não usada pelo GFCB, por não corresponder aos objectivos actuais do Grupo, foi desenhada por João Vidal e bordada pela costureira Maria Emília Serra, conhecida por trabalhar para a casa José Elias.

(4) A quem, no 40º aniversário do Grupo, Henrique Salsinha, ex-presidente, presta homenagem. Cf. Brochura de 2007, pg.22 Fazem parte do acervo do Grupo 130 trajos, dÉ também de realçar o trabalho das costureiras que têm acompanhado o Grupo ao longo dos anos, como: Joaquina Mão-de-Ferro, Rita Miranda e Angélica Farto.