Ficha Técnica:
Realização e Imagem: Carlos Eduardo Viana
Registo de Som: Rui Alberto Viana
Iluminação: Augusto Moreira e Eduardo Brito
Montagem: Vítor Silva, Carlos Eduardo Viana e Fátima Laranjeira
Produção: Oficina de Cinema e Audiovisuais do Centro Cultural do Alto Minho, com o apoio da Federação Portuguesa de Cinema e Audiovisuais e da Secretaria de Estado da Cultura

(1983)
"Esta romaria tem lugar no dia 24 de Agosto, na aldeia de S. Bartolomeu do mar e atrai milhares de romeiros.
No quadro das romarias portuguesas ela apresenta-se como um dos exemplos mais significativos da perdurabilidade de componentes mágicas muito expressivas em cerimónias religiosas.
O santo é tido como um grande defensor contra a epilepsia, que no conceito popular se identifica com a possessão pelo Diabo, e ainda contra a gaguez e o medo, que são formas atenuadas daquela possessão. Segundo a lenda, S. Bartolomeu domina e vence o Demónio. No seu dia, por isso, acredita-se na eficácia da sua intervenção na cura daqueles males, mediante práticas específicas, designadamente oferenda de frangos, preferentemente pretos, e banhos rituais de mar, respeitantes fundamentalmente às crianças.
O ritual inicia-se cumprindo as voltas cerimoniais em torno da igreja, levando as crianças os frangos ao colo ou pendurados nas mãos pelas pernas. Seguidamente entram na igreja e dirigem-se a uma mesa assistida pelos festeiros onde estão duas imagens do Santo que são dadas a beijar às crianças. Entregam os frangos a uma mulher que os leva para um galinheiro instalado ali ao lado. As crianças desfilam em torno do andor de S. Bartolomeu, em forma de barco, de modo a passarem três vezes sob a proa.
A meio da manhã tem lugar a missa solene, ouvindo-se por entre os cânticos litúrgicos o cacarejo dos frangos que incessantemente entram na igreja ao colo das crianças.
Cumpridas as promessas na igreja os devotos seguem até à beira-mar por um caminho onde, até aos anos cinquenta se exibiam centenas de aleijados, sobretudo epilépticos, falsos ou verdadeiros. Um severo policiamento retirou de cena quase que por completo esses actores grotescos.
No extenso areal da praia a multidão adensa-se. As famílias despem completamente as crianças e entregam-nas aos sargaceiros ou sargaceiras que se tornam banheiros nesse dia. Tomam as crianças nos braços e entram com elas no mar mergulhando-as ritualmente em três ondas.
Entretanto a animação aumenta. Canta-se e dança-se e atacam-se os merendeiros. Pelas 15 horas sai a procissão da igreja e vai pelo caminho da praia parando junto ao mar. O pregador sobe a um púlpito improvisado e profere o sermão, aludindo às virtudes do mar. A procissão regressa à igreja por entre intenso estrelejar de foguetes."

Benjamim Enes Pereira"