nome:
Delfina Cunha
ano nascimento:
1938
freguesia: Santo Quintino (Localidade - Fetais)
concelho:
Sobral de Monte Agraço
distrito:
Lisboa
data de recolha: 2013
 
 

Inventário PCI

Os anarquistas

Sobral de Monte Agraço

"Os anarquistas"- Episódio sobre a convivência com os anarquistas, depois da invasão francesa.

Delfina Cunha, Ano de nascimento 1938, Fetais, Sobral de Monte Agraço.

Episódio de história de vida

Transcrição

Os anarquistas

 

Depois dos franceses cá estarem e depois de eles irem embora, (salvo erro, em 1811; isso também está escrito no próximo livro de há de sair) havia os anarquistas. Sabes melhor do que eu o que é são os anarquistas. E eles então, um grupo deles, foram à igreja do Sobral e, com carros não sei se puxados a bois, se puxados a machos e mulas, roubaram os santos todos da igreja e parece que andavam com os santos á rojo. Maldade. Porque isso é só… Só revela maldade.

E então houve um grupo que veio a Fetais. E foi ter com o senhor Manuel Eloy, que era onde havia a loja, e disseram assim:

- Ó senhor Manuel Eloy, quem é que tem a chave da igreja? É porque nós queremos partir tudo quando lá estiver dentro.

E ele disse assim:

- A chave da igreja, tenho eu. Está aqui. E vocês… -olha, se o meu livro nunca for para o ar, isto vai já aqui. Deus queira que o veja! -A chave da igreja está aqui. E se vocês quiserem ferramentas para partir alguma coisa, vão à minha adega, porque vocês sabem muito bem onde ela é porque já lá têm entrado muita vez… -que eles iam lá beber -e estão à vontade.

Perante isto, os anarquistas não fizeram nada: foram embora. Nem a chave pegaram, nem a porta da igreja entraram.

E então, não sei quantos dias foi, depois veio outro grupo. Começaram a desmanchar a cruz que há ali no Largo da Cruz em frente à igreja. Começaram a desmanchar. E o senhor João Fulineiro, que estava na oficina dele, que é em frente à igreja, ouviu muita barafunda, falar alto, e isto e aquilo – e veio ver o que era. E disse:

- Então mas o que é que vocês vão fazer?

- Ah, vamos desmanchar a cruz, que isto não está aqui a fazer nada…

E ele disse:

- Olhe, então vamos combinar uma coisa: vocês desmanchem a cruz sem partir pedra nenhuma. -astúcia que ele teve… Astúcia, inteligência, perspicácia, sei lá o que é que ele teve…-Vocês não partam pedra nenhuma. Vão pô-las todas ali dentro do meu pátio, que eu ando a arranjar a minha casa e eu aproveito-as para as cantarias da minha janela.

Assim foi. Eles, convencidos que ele que estava do lado deles, foram lá pôr as pedras todas. Pronto, foram embora. Desmancharam a cruz, fizeram o que eles queriam e as pedras foram todas para o quintal do senhor João Fulineiro – Funileiro! Aqui a gente é Fulineiro, olha… Mas tenho que emendar, que é Funileiro. Foram para o quintal do senhor João Funileiro. Quando acabou, quando assentou a poeira, o senhor João pagou a homens por conta dele e montaram a cruz toda no sítio onde ela está hoje outra vez. E ele não se serviu de cantaria nenhuma para a porta dele. Foi inteligência, perspicácia, amor à terra, amor à igreja, amor… Amor a tudo.

Caraterização

Identificação

Práticas sociais, rituais e eventos festivos
Organização social
Os anarquistas
1938
Delfina Cunha
Trabalhadora agrícola

Contexto de produção

Contexto territorial

Fetais, casa da Delfina Cunha
Santo Quintino
Sobral de Monte Agraço
Lisboa
Portugal

Contexto temporal

2013

Património associado

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Episódio contado em eventos, excursões e actividades organizadas pela junta de freguesia ou município de Sobral de Monte Agraço

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Ana Sofia Paiva
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
Filomena Sousa
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL