Inventário PCI

Bolinhos de S. Sebastião - Barbacena, Elvas

Os bolinhos de S. Sebastião confecionam-se na vila de Barbacena, do concelho de Elvas, há pelo menos quatro gerações. Duas semanas antes da procissão do dia 20 de Janeiro em honra do Santo (ou no domingo mais próximo dessa data) um grupo de senhoras da comunidade encontra-se durante uma semana na antiga capela e aí realizam milhares de bolos com forma de selo. Os bolos são cozidos à noite e depositados na igreja. No fim-de-semana, no domingo, depois da missa, é pedido ao Padre que benza os bolinhos. Depois de benzidos os bolinhos voltam para o local da confeção onde, durante e segunda semana, são pesados e embalados. No dia da festa, depois da procissão, são vendidos à comunidade. São várias as histórias/lendas que tentam explicar a origem destes bolos que são conhecidos por serem milagrosos devido aos seus efeitos curativos.

Registo: União das Freguesias de Barbacena e Vila Fernando, concelho de Elvas, 2014.

Transcrição

Caraterização

A receita dos bolinhos de S. Sebastião de Barbacena (escrita) passa de “guardiã” para “guardiã” mais ou menos de quarenta em quarenta anos. Atualmente a receita está na posse de Beatriz Carvalho. 

A quando da passagem da receita pede-se sempre à nova “guardiã” para manter em segredo as medidas referentes a cada ingrediente. Conhece-se, no entanto, os ingredientes que compõem a receita:

Ingredientes

Água morna

Banha

Sal

Farinha

Açúcar

Limão

Canela e Erva-doce.

 

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São várias as histórias/lendas que tentam explicar a origem destes bolos que são conhecidos por serem milagrosos devido aos seus efeitos curativos. É possível, contudo, identificar quatro diferentes gerações que confecionaram os bolinhos no contexto em que ainda são confecionados – Beatriz Carvalho (atualmente), Ângela Fanico, Eulália Fróis e o sacristão “Mestre” Miguel.

Vários são os testemunhos que referem o sacristão Miguel como a primeira pessoa a promover os bolos vendendo-os numa cesta pequena junto à igreja no Domingo, por altura da festa.

As versões das histórias/lendas mais contadas sobre a origem dos bolinhos são as seguintes:

“Havia uma senhora que estava a amassar pão no alguidar e era cega. Quando a procissão passou ela foi para a rua e pediu a S. Sebastião que a curasse. A senhora começou a ver. Com a massa com que ia fazer o pão fez também bolinhos e distribui pelas pessoas.”

A segunda história remonta à altura do Conde de Barbacena (título instituído por decreto do rei João VI de Portugal em 1816) e a uma epidemia que alguns referem de sarampo e outros de varíola.

“Houve um ano em que as crianças de Barbacena estavam todas com sarampo. O Conde de Barbacena disse para a cozinheira:

- Fazei uns bolinhos pequeninos para a miudagem.

Distribuíram os bolinhos e as crianças melhoraram. Como a distribuição foi feita no dia de S. Sebastião os bolos ficaram com o nome do santo.”

Os bolinhos de S. Sebastião também são conhecidos por bolinhos das bexigas. Ainda hoje comem-se os bolos porque são considerados milagrosos com efeitos curativos, protegendo contra as ditas “bexigas”. Segundo o ditado “Quem comer bolos de São Sebastião gozará de boa saúde o resto do ano”.

Conta-se ainda que, porque S. Sebastião era um soldado, durante o guerra colonial as raparigas solteiras e as mães dos soldados enviavam num envelope, para os respetivos namorados e filhos, um bolinho de S. Sebastião.

Identificação

Práticas sociais, rituais e eventos festivos
Cozinha, alimentação e estimulantes
Bolinhos de S. Sebastião - Barbacena, ElvasPortugal
Grupo de senhoras da comunidade de Barbacena

Contexto de produção

Grupo de senhoras da comunidade de Barbacena
Grupo de senhoras da comunidade de Barbacena

Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário.

Em 2014 a receita é guardada por Beatriz Carvalho. Atualmente o grupo que confeciona os bolinhos (com cerca de 25 pessoas) promovem, durante as duas semanas anteriores ao dia da festa, uma dinâmica que permite a passagem do saber entre gerações. Nos próximos anos Beatriz Carvalho e o grupo escolhem a próxima “guardiã” da receita. 

Contexto territorial

Barbacena
União de freguesias de Barbacena e Vila Fernando
Elvas
Portalegre
Portugal

Contexto temporal

2014
Anual, durante as duas semanas que antecedem a procissão de S.Sebastião

Património associado

Procissão de S. Sebastião

Leilão de fogaças

Convívio do Grupo do Cantar dos Reis

Utensílios

Tacho para aquecer a água e tacho para derreter a banha

Amassadeira elétrica

Máquina de tender massa

Roda para cortar massa

Tabuleiros

elementos da procissão de S. Sebastião, que inicia pelas 14h, no Domingo da festa, a partir da Igreja Matriz (2014):

Crucifixo

Lanternas

Pálio (onde seguem os padres)

Pendão 1: S. Sebastião

Pendão 2: Nossa Senhora da Graça

Pendão 3: Nosso Senhor Jesus Cristo (Apostolado da Oração)

Andor: S. Sebastião

Igreja: Igreja Matriz de Barbacena

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
aprendizagem informal
Agentes de tramissão

Identificadas pelo menos 4 gerações.

A receita dos bolinhos de S. Sebastião de Barbacena (escrita) passa de “guardiã” para “guardiã” mais ou menos de quarenta em quarenta anos. Atualmente a receita está na posse de Beatriz Carvalho, é possível identificar como anteriores detentores da receita: Ângela Fanico; Eulália Fróis e o Sacristão Mestre Miguel.

A quando da passagem da receita pede-se sempre à nova “guardiã” para manter em segredo as medidas referentes a cada ingrediente.

Idioma
4/Elvas/Barbacena

Equipa

Transcrição
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
Filomena Sousa
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL