Inventário PCI

Corre corre cabacinha

Beja

“Corre corre cabacinha”- Através da astúcia uma velhinha escapa a um lobo guloso.

Olívia Brissos; Beringel; Concelho de Beja.

Registo 2006.

Conto de animais. Classificado segundo o sistema internacional de Aarne-Thompson: Marzolph *122 F (Fuga dentro de uma cabaça). Versões conhecidas: 91 portuguesas; 6 iranianas; 2 espanholas; 2 brasileiras; 1 angolana; 1 nepalesa.

Classificação: Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Junho de 2007.

Transcrição

[Corre, corre cabacinha]

 

Havia também uma velhota que vivia num monte(1). E depois foi *à da filha*(2)  e ia por o mato afora, *tira-tira, beco-beco(3)*, chegou lá adiante, encontrou um lobo.

 

Lobo – Agora como-te! – disse o lobo. – Tem paciência, mas agora como-te!

 

Velha – Ai, não! Olha na’ me comas agora, que eu vou ao casamento da minha neta e já venho mais gorda! Nessa altura já me comes, mas agora ainda estou tão magrinha! Na’ vale a pena!

 

Lobo – Atão(4) ‘tá bem.

 

Bom e tudo falava nessa altura: falavam os lobos e falavam as velhas.

Abalou(5) a velhota, tira-tira, beco-beco, foi à da filha. Bom, chegou lá, houve o casamento da neta. Quando acabou isso, disse ela:

 

– Ai! Diga lá, agora… Como é que eu agora vou pra casa?! Atão o lobo ‘tá aí à minha espera! Ele disse logo que me esperava.

 

Familiar – Ai, na’ senhora! Espere que a gente temos aqui uma cabaça(6). A gente arranja-lhe aqui a cabaça e você vai dentro!

 

‘Tiveram raspando aquilo tudo e meteram a velha na cabaça. Bom, abalou rebolando e encontrou o lobo. Disse ele:

 

– Ó cabacinha, não viste pràí uma velhinha?

 

Cabaça – Eu na’ vi nem velhinha, nem velhão! Corre, corre cabacinha, corre, corre cabação!

 

Lá abalou rebolando, rebolando e, pronto, o lobo ficou à espera. E ela abalou rebolando, rebolando foi pra casa.

 

Também deve ser verdade, esta!

 

 

Olívia Brissos, Beringel (conc. Beja), Fevereiro de 2006.

Glossário:

(1) Monte: regionalismo do Alentejo. Sede de herdade formada por vários edifícios em torno de um pátio; designação por vezes atribuída à própria herdade.

(2) Ir à da: ir à casa de alguém, no caso, à casa da filha (expressão do Alentejo).

(3) Tira-tira, beco-beco: «Um andamento qualquer que a gente… A minha neta quando eu vou lá é que me diz:

– Atão? A avó atão já vai tira-tira, beco-beco? Cantando muito calada, n’ é verdade? – Pois, atão agora vou cantando muito calada. É uma maneira de dizer.» (Olívia Brissos, Beringel, Fevereiro de 2006).

(4) Atão: regionalismo de Portugal, de uso informal e coloquial que significa “então”.

(5) Abalou: foi-se embora.

(6) Cabaça: espécie de abóbora normalmente com a forma do algarismo 8 que, depois de despojada das sementes e completamente seca, pode ser usado como vasilha para líquidos.

Para execução deste glossário consultaram-se os websites: http://www.ciberduvidas.com; http://www.infopedia.pt; http://motoxaparros.webs.com/comodizquedisse.htm; http://www.priberam.pt/; http://acll.home.sapo.pt/portugues.html

 

 

 

 

 

 

 

Caraterização

Identificação

Tradições e expressões orais
Manifestações literárias, orais e escritas
Corre corre cabacinha
Olívia Brissos

Contexto de produção

Contexto territorial

Beringel
Beringel
Beja
Beja
Portugal

Contexto temporal

2006
Actualmente sem periodicidade certa. Encontros informais e iniciativas do Município de Beja.

Património associado

Transmitidas aos serões, em quotidianos de trabalho e lazer.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
ativa
Descrição da transmissão
Agentes de tramissão

Contadores de histórias que participam em iniciativas do Município de Beja. São convidados na iniciativa Palavras Andarilhas. Vão a escolas, lares e bibliotecas.

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Maria de Lurdes Sousa
Registo vídeo / audio
José Barbieri
Entrevista
Cristina Taquelim
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL