Designação: O Pintar e Cantar os Reis no Concelho de Alenquer
Freguesias: Abrigada, Aldeia Gavinha, Cabanas de Torres, Meca, Olhalvo e Ota 
Concelho: Alenquer
Distrito: Lisboa
Data de recolha:
2015-2016
 

Inventário PCI

O Pintar e Cantar dos Reis no concelho de Alenquer

O Pintar e Cantar dos Reis inclui numa só prática diversos elementos: a festa, a linguagem escrita (hieroglífica e silábica do Pintar dos Reis), os ritos (naturalísticos, religiosos, de sociabilidade e de puberdade), os cantares (épicos, religiosos e petitórios) e os cultos (astrais, dos mortos e religiosos, como a Encomendação das Almas ou a Bênção das Casas).

O Pintar e Cantar dos Reis tem em Portugal a sua maior expressão no concelho de Alenquer e em 2016 a celebração realizou-se, com variantes, em 9 povoações: Catém, Casal Monteiro, Mata, Penafirme da Mata, Olhalvo, Paúla, Cabanas de Torres, Ota e Abrigada.

Transcrição

Caraterização

O PINTAR E CANTAR DOS REIS EM ALENQUER*

 

*Resumo - ver versão completa, anotada e com fotografias no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 1-16 e 25-100).

 

Sendo conhecida apenas como Cantar dos Reis ou Cantar dos Reses a manifestação celebrada no concelho de Alenquer implica a participação quer dos cantores-reiseiros quer dos pintores-reiseiros e, resumindo as características comuns da expressão cultural nas diferentes povoações, o ritual começa pela constituição dos grupos que anualmente, na noite de 5 para 6 de janeiro, se reúnem para Pintar e Cantar os Reis nas suas localidades. Sem ensaios ou combinações elaboradas, o grupo junta-se espontaneamente e parte pelas ruas da povoação. Os membros que vão pintar seguem à frente e, em silêncio, munidos das tintas, pincéis e lanternas pintam as fachadas, os muros e as entradas das casas com os tradicionais desenhos dos Reis. Mais atrás seguem, em maior número, os cantores - o coro liderado pelo apontador. 

Durante toda a noite alguns elementos do grupo desenham diferentes símbolos nas fachadas junto às portas, na entrada das casas  - o desenho de vasos e corações com flores alusivos à composição do agregado familiar; os desenhos representativos das profissões e doutras atividades dos habitantes; o desenho da Estrela do Oriente ; as inscrições alusivas aos Reis e a "Era" (o ano da celebração). As cores tradicionalmente utilizadas no ritual são o vermelho almagre e o azul de anilina. 

A ORIGEM E HISTÓRIA DO PINTAR E CANTAR DOS REIS*

 

*Resumo - ver versão completa e anotada no PDF abaixo em "Documentação" (páginas 17-24).

 

No século IV as celebrações da Epifania do Oriente chegam à Europa. Na Igreja do Ocidente o auto dos Magos difunde-se massivamente, auto esse que ao longo dos tempos sofre várias modificações dando origem a outro tipo de manifestações: práticas realizadas usualmente no espaço público, dirigidas por populares e que incluíam desfiles pelas ruas, peditórios acompanhados por bênçãos e versões resumidas e musicadas do auto por exemplo o Cantar dos Reis em Portugal, os Vilhancicos em Espanha e o Cantar da Estrela na Alemanha (Coelho, org. Leal, 1993; Peixoto, 1995; Weiser, 1952).

Associada à cerebração da Epifania está a tradicional Bênção do Giz (descrita no antigo Ritual Romano) - uma cerimónia que utiliza um giz abençoado para, no dia 6 de janeiro, se inscreverem as iniciais CMB ( Christus Mansionem Benedicat ) e o ano nas portas. Ritual de onde pode provir o costume de, na Noite dos Reis, se pintarem votos de felicidades à entrada das casas.

Na Península Ibérica o Dia de Reis começa a ser celebrado devido à chegada dos Frades Franciscanos e Dominicanos a este território. Este facto permite sublinhar a importância de Alenquer no processo de difusão desta celebração. Em Portugal, foi na região do concelho de Alenquer que estas Ordens foram primeiramente acolhidas entre 1212 e 1218 Frei Zacarias chega a Alenquer para fundar um convento Franciscano e Frei Soeiro Gomes, primeiro provincial dominicano da Península Ibérica (1221-1223) funda, no termo do concelho de Alenquer, no alto da Serra de Montejunto, o primeiro convento Dominicano português.

Identificação

Práticas sociais, rituais e eventos festivos
Festividades cíclicas Rituais colectivos
O Pintar e Cantar dos Reis (Cantar dos Reses ou Cantar dos Reis)
Grupos dos Reis do Concelho de Alenquer
não se aplica

Contexto de produção

Catém, Casal Monteiro, Mata, Penafirme da Mata, Olhalvo, Paúla, Cabanas de Torres, Ota e Abrigada
não se aplica

Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.

Os direitos coletivos são de tipo consuetudinário - comunidade local.

Ações promovidas pelos Grupos dos Reis:

Garantir a execução do Pintar e do Cantar dos Reis nas suas povoações;  Garantir a transmissão da prática, motivando e ensinando as gerações mais novas; Reunir os recursos necessários para a execução da expressão cultural (materiais e humanos); Associar-se como parceiros às ações de salvaguarda promovidas pela Câmara Municipal.

Ações promovidas pela Câmara Municipal de Alenquer:

Apoio logístico aos Grupos dos Reis do concelho de Alenquer; Estudo e Inventariação do Pintar e Cantar dos Reis no concelho de Alenquer (2016); Realização de um documentário sobre a expressão cultural (2016); Publicação de um livro sobre a expressão cultural; Continuação da organização dos Encontros sobre o Pintar e Cantar dos Reis entre os membros de todos os grupos (já promovidos em 2013, 2014, 2015 e 2016)  Continuação da organização do "Roteiro Turístico Noturno" - que permite assistir ao Pintar e Cantar dos Reis em várias povoações, na noite de 5 para 6 de janeiro. Atividade promovida com o consentimento dos Grupos e respeitando o recato da manifestação (já promovido nos anos de 2015 e 2016).

Nas povoações onde se pratica o Pintar e Cantar dos Reis várias gerações estão envolvidas na organização da tradição. A comunidade não considera a celebração em risco ou ameaçada e a transmissão geracional dos conhecimentos e práticas encontra-se atualmente assegurada pelos diferentes Grupos dos Reis. São visíveis, contudo, alterações que podem colocar em risco a elaboração dos desenhos tradicionais realizados à mão (o desenho de vasos e corações com flores alusivos à composição do agregado familiar; os desenhos representativos das profissões e doutras atividades dos habitantes e o desenho da Estrela do Oriente ). Nos locais onde estes desenhos são cada vez mais raros os praticantes substituem-nos pela inscrição das siglas BF, BRM e/ou BR junto com o ano, pintados com moldes metálicos e com tinta pulverizável aplicada com sprays (substituindo as tintas de água ou as antigas terras diluídas em água). Justificam essa mudança com a "necessidade de não demorarem muito tempo na execução das pinturas". Um sinal claro da desvalorização dos desenhos tradicionais e do perigo da sua manutenção na prática.

Contexto territorial

Catém, Casal Monteiro, Mata, Penafirme da Mata, Olhalvo, Paúla, Cabanas de Torres, Ota e Abrigada
Aldeia Gavinha Cabanas de Torres Meca Olhalvo Ota
Alenquer
Lisboa
Portugal

Contexto temporal

2015
Realiza-se anualmente na Noite de Reis - de 5 para 6 de janeiro

Património associado

Em 5 dos 9 locais onde se cantou e pintou os Reis em 2016 (Catém, Casal Monteiro, Olhalvo, Mata e Penafirme da Mata) realizou-se no fim-de-semana seguinte ou no segundo fim-de-semana depois da celebração o Peditório dos Reis pelas casas das povoações. O resultado desse peditório serviu, em alguns casos, para mandar rezar uma Missa pelas Almas do Purgatório e para organizar um almoço para todos os elementos do grupo (Catém e Casal Monteiro - missa celebrada na Igreja de Meca; Mata - missa celebrada na Igreja de Aldeia Gavinha). Na Abrigada e na Paúla não se realiza o peditório, mas em alguns anos os praticantes juntam-se para um almoço ou jantar partilhando as despesas. 

Instrumentos para pintura - compasso, pincéis e antigos moldes dos vasos, dos corações e das inscrições.

Não se aplica.

Contexto de transmissão

Estado da transmissão
activa
Descrição da transmissão
Aprendizagem informal Aprendizagem combinada oralidade/escrit Acesso livre Periódico Com recurso a lugar
Agentes de tramissão

Conhecedor do ritual, o apontador é usualmente o elemento que assume o papel de porta-voz do grupo e partilha com o pintor mais velho e com os elementos mais dedicados ao grupo a responsabilidade de manter a prática transmitindo-a às novas gerações.

Idioma
Português

Equipa

Transcrição
Registo vídeo / audio
José Barbieri, Carolina Carvalho, Eva Ângelo, Filomena Sousa, Maria Ana Krupenski e Miguel Martinho
Entrevista
Filomena Sousa e José Barbieri
Inventário PCI - Memoria Imaterial CRL