Andava um garotinho
«E andava um garotinho de dez anos
agarrado ao trabalho, amargurado.
Mas como o seu trabalho não rendia,
à noite, pelo pai era espancado.
E o garotinho já farto de sofrer,
com seus pais, martírios e dores.
Mas um dia que pensou ele fazer?
Abandonar a casa de seus pais.
A uma terra longe, o garotinho
a uma casa rica foi bater.
E pedindo com carinho e com ternura
pedindo de comer e de dormir.
Então os donos da casa procuraram-lhe:
- Que andas a fazer abandonado?
E o garotinho a chorar exclamou:
- Senhor, o meu pai é um malvado!
E o garotinho a chorar exclamou:
- Senhor, o meu pai é um malvado!
- E então meu garotinho, escuta lá,
em bez(1) do teu pai ser um malvado
se não quiseres ir embora, fica cá
e eu de ti farei um homem bem de balor(2).
Se não quiseres ir embora, fica cá
e eu de ti farei um homem bem de balor.»
Alcino Teles do Fundo, Vimioso, Outubro de 2010
Glossário:
(1) Bez/balor: “vez” e “valor” (trocar o “b” pelo “v” é um traço fonético comum nos dialectos do Norte do Portugal).