Naquela casa de esquina
“Naquela casa de esquina, mora a Senhora do Monte
e a Providência Divina, mora ali quase de fronte.
Eu fui chamar o meu paizinho, uma nova lhe quero contar,
matei o pavão ao mestre, é favor de lho ir pagar.
Tenho aqui dezoito euros, aos vinte não chegarão,
ainda chegam para pagar a valia de um pavão.
Arrecade lá o seu dinheiro, para amigos não é nada (isto era o professor),
venha Antoninho para a escola, que ainda tens a mesma entrada.
Antoninho, coitadinho, todo o caminho a chorar,
chegou à porta da sala, ainda ia a soluçar.
Professor assim que ouviu, num bracinho lhe pegou,
tirou a faca do bolso e no coração lhe espetou.
Ó meninos da escola, não viram o meu Antoninho (isto o pai).
Ele está num quarto escuro, todo ele asanguentadinho[1].
Abram portas e janelas, meu filhinho eu quero ver
quero lhe o rosto beijar antes da terra o comer.
Das dez horas para às onze e das onze para o meio-dia,
entregou sua alma a Deus e o seu corpo à terra fria.
[1] Ensanguentado