Acabo aonde comecei
«Acabo aonde comecei,
tenho o destino marcado.
Quem vai morrer onde nasceu,
perde os passos que tem dado.
Quem acaba aonde começa,
tudo o que lhe aconteceu,
perde os passos que deu,
não passou de uma promessa.
Mas quando a vida se processa
como eu a encontrei,
que não há força nem há lei
que seja capaz de a mudar
e foi-me dado este lugar,
acabo aonde comecei.
Tudo fiz pra(1) na’(2) ser assim,
mas a sorte na’ me ajudou.
Porque o destino marcou
o princípio, o meio e o fim.
Tive sempre contra mim
o defeito do passado.
Fui um meio abandonado.
que mais não pude conseguir
e daqui não posso sair,
tenho o destino marcado.
Nasci pra na’ ser feliz,
vivi sempre em desvantagem
e fiquei ao meio da viagem,
não consegui o que quis.
O bem ou o mal que fiz,
foi tempo que se perdeu.
Porque quem lutou e na’ venceu e
Na’ realizou o seu sonho,
foi sempre do mesmo tamanho
e vai morrer onde nasceu.
Esta longa caminhada
tem-me prolongado a vida,
mas estou na hora da partida
pouco mais falta que nada.
Foi uma vida agitada
com quem eu tenho lutado,
mas quem segue um caminho errado
não tem poder nem classe
e vai morrer a onde nasce
e perde os passos que tem dado.»
Eusébio Pereira, Grândola, Fevereiro de 2007
Glossário:
(1) Pra – abreviatura oral de “para a”.
(2) Na’: abreviatura oral de “não”.