• Manuel da Conceição Braga

    • Nascimento: 1946.

    • Residência: Portalegre

    • Actividade profissional: Administrativo

    • Função no GFCB: Direcção, Comissão Técnica e cantador

    • Entrevista: 2010/2/8_ Portalegre_Sede do GFCB

"Ora bem é assim: nesta região, contrariamente aquilo que se diz, não há só saias. Pronto, irão encontrar esta realidade no Grupo do Semeador – que há várias formas de canto e várias formas de música. Várias, diversas! Mas relativamente ao Boavista é assim: nós temos um repertório constituído por muitas saias. “Saias” é uma forma de balhar! Uma forma que as pessoas encontraram e chamaram-lhe “saias” àquela forma de balhar, pronto! Não é porque abanavam a saia, porque já ouvi dizer que: “porque que lhe chamam saias? Ah! Porque as mulheres quando iam para o campo abanavam a saia!” Se abanavam a saia, também abanavam a blusa! Ou o lenço ou o chapéu, não sei quê! Portanto é uma forma de… Olhe como no Baixo Alentejo chamam “modas” às cantigas! Portanto aqui chamam-se saias, aquela forma característica de balhar.

Nós temos saias que são dançadas em roda normalmente. São aquelas que temos mais, portanto. Depois temos algumas balhações também que têm alguma inspiração palaciana. Coisas que as pessoas viam nos palácios, nas casas senhoriais que havia aqui em Portalegre e que copiaram. Viram, trouxeram para os seus familiares, os seus familiares levaram para outras pessoas. Foram levadas até ao campo, por exemplo, não é? Uma pessoa que trabalhava numa casa aqui, num palácio aqui em Portalegre, por vezes, assistia como criado ou pessoa de limpeza – não se misturava lá a balhar com eles, que eles não os queriam lá! Não era? Mas, naturalmente, a curiosidade sempre desperta alguma coisa e iam vendo! Ia-se ver e depois reconstituía: “olha, eu vi um baile assim em tal casa!”. E passavam essa informação. E depois também experimentaram fazer isso. E nós temos alguns casos desses. São vários de característica palaciana.

Depois temos bailes que normalmente eram só feitos (baseados em festas) em festas populares também. O que temos são balhações em roda, temos algumas balhações em coluna, também. Temos meia dúzia, três ou quatro em coluna. Depois podemos falar o nome delas, não é? E temas também três ou quatro em quadria – portanto são as mais complicadas, são mais elaboradas, isto é, não têm muitas marcações. Duas, três marcações… No máximo três marcações, não fogem muito disso. Depois é sempre a repetição daquilo que se está a fazer. São mais complicadas porque, normalmente, são (contrariamente aquilo que as pessoas às vezes dizem que têm que ser balhadas por oito pares, não é?), podem ser balhadas por dezasseis pares, podem ser balhadas por doze, podem ser balhadas por quatro, até podem ser balhadas por nove, até podem ser balhadas por seis desde que, de facto, isso seja preparado portanto isso é normal. Em certas marcações, certas passagens que, de facto, que permite isso. E às vezes é um empecilho para alguns balhadores ou balhadoras quando vê… Vamos dançar, por exemplo, “Moreninha” e se colocarmos aí… Ainda não há muito tempo nós fomos a Espanha e só queriam três pares (acho que eram três pares, três pares ou dois pares) e nós dançámos a “Moreninha”. Eles levaram a “Moreninha”. Ensaiámos aqui a “Moreninha” e levaram-na com dois pares, pronto. Não é preciso oito pares. É. Naturalmente que oito pares vistos de cima fica muito bonita! Desde de que seja balhada ali com todos os pormenores, enfim, muito certinhos… Mas aquelas que mais caracterizam aqui a região também são, de facto, as modas de saias, as bailarinas de saias e o cantar ao desafio. Que permitem, essas saias permitem se cantar – o homem e a mulher cantam – e são também as mais fáceis. Mesmo que haja um engano, facilmente é recuperável.

Numa dança de roda, se alguém se enganar, facilmente recupera e entra na roda novamente. Numa dança de coluna também é possível fazer isso, também é possível. Há um engano, também se tiver com atenção entra rapidamente no movimento da dança. Na dança de quadrilha também é possível entrar! Mas tem que esperar o momento certo de de facto entrar, porque há cruzamentos de pares e de pessoas (entre homens e mulheres e homens… E mulheres também, elas trocam, não é?) E há, de facto, um momento próprio para entrar portanto. Desde que as pessoas sejam capacitadas com a sua responsabilidade e sabendo o que estão a fazer nenhuma dança é difícil, não é complicado. Aquelas mais complicadas, naturalmente são essas, mas que também é possível fazer-se.

Por norma nós começamos a ensinar os meninos e as meninas ou as pessoas mais adultas que vêm ao grupo aprender a balhar (para ficar no grupo), começamos por aquelas mais fáceis, aquelas que têm um momento lúdico da dança, não é? E também do jogo. Portanto esta é a mais fácil – um, dois, três e depois dar uns passinhos e cantar e virar para um lado e para o outro. Naturalmente nós começamos por aí, não é?"